Vivemos numa época em que tudo gira em torno da comunicação: desde aquelas conversas informais no grupo de WhatsApp até as discussões acaloradas sobre política nas redes sociais. Às vezes, nem paramos para pensar no que acontece “por trás” da mensagem: o meio, o formato, o momento em que ela surge. Para quem trabalha — ou estuda — comunicação, entender as teorias por trás desses processos não é frescura de sala de aula; é a base para agir com mais clareza, mais impacto e, quem sabe, até mais humanidade.
A seguir, apresento de maneira mais “de boas” os principais aprendizados que surgiram de um levantamento sobre Teoria da Comunicação. Leva um café, sente aí e me acompanha:
1. A Mídia como Agente Formador de Percepções
Lá no meio do século passado, o cara John Marshall McLuhan soltou uma frase que virou quase mantra: “o meio é a mensagem”. O que ele quis dizer? Que não basta só olhar para o conteúdo (o que estou falando / escrevendo / postando), mas também para o meio — essa rede social, esse blog, esse jornal de papel. Cada plataforma tem jeitos próprios de mexer com a nossa cabeça.
- Exemplo prático: No TikTok, o tempo de atenção é curtíssimo. Vídeos de 15 segundos dominam. Então, quem produz lá sabe que precisa mandar a informação rapidinho, já de cara. Já num texto de blog ou num artigo acadêmico, posso gastar dez, vinte minutos mergulhado em cada frase.
- E daí?: Se eu quero ensinar algo, preciso refletir: “Será que vale mais um vídeo rápido no Instagram ou um texto mais desenvolvido no LinkedIn?” No fundo, a escolha do canal muda nosso jeito de pensar, de debater e até de aprender. Se eu só enxergar o “o quê” e esquecer “o como”, vai faltar aquele “algo a mais” na comunicação.
Em síntese, não basta perguntar “o quê” está sendo comunicado: é preciso investigar “como” a tecnologia em uso molda percepções, comportamentos e hábitos sociais.
2. Indústria Cultural e as Estruturas de Poder Midiático
Imagina um mundo em que toda novela, todo programa de auditório e todo reality show segue a mesma receita: vilão X, mocinha Y, drama no meio e final previsível. Pois é exatamente esse alerta que vieram dar Theodor Adorno e Max Horkheimer, da chamada Escola de Frankfurt. Eles chamaram esse culto em série de “Indústria Cultural”: a ideia de que a cultura de massa — novelas, big shows, notícias “quentes” — muitas vezes serve para manter nossos gostos padronizados e fortalecer certas ideias dominantes.
Os pensadores da Escola de Frankfurt, em especial Theodor Adorno e Max Horkheimer, trouxeram à tona um alerta que segue urgente: a cultura produzida em massa — novelas, reality shows, notícias sensacionalistas — muitas vezes funciona como mecanismo de padronização e reprodução de valores dominantes.
- Padronização de gostos: produtos mediáticos são concebidos para atingir o maior público possível. Com fórmulas repetitivas, eles instalam referências “seguras” que, no fundo, mantêm status quo ideológico. Quando a gente engole sempre a mesma fórmula, perde o gosto pela novidade, pela reflexão. Em vez de questionar: “Será que isso faz sentido?”, “a gente aceita” o que dão ali na tela. Hoje, com algoritmos de redes sociais, esse ciclo ficou ainda mais intenso: o Facebook ou o YouTube aprende quais vídeos me prendem mais e passa a me mostrar sempre o mesmo tipo de conteúdo. Se eu adoro fofocas de celebridades, posso passar o dia todo vendo fofoca e nem lembrar que existem outras maneiras de usar meu tempo.
- Alienação: ao repetir conteúdos que reforçam estereótipos e distraem das contradições sociais, a indústria cultural reduz a capacidade de questionamento crítico do público.
O que podemos tirar disso?
Se você trabalha com comunicação — seja numa ONG, seja numa startup — Profissionais de comunicação e Pesquisadores podem se beneficiar ao aprender a mapear esses mecanismos de poder: ao investigar quem financia projetos, quais narrativas são reforçadas e quais vozes são reprimidas, conseguimos promover uma produção cultural mais diversa e uma recepção mais crítica dos conteúdos. Entender quem financia cada projeto e quais narrativas são reforçadas ajuda a quebrar esse ciclo de repetição. Torna-se mais fácil pensar em formatos novos, conversas diferentes que instiguem a reflexão em vez de “emburrecer” o público.
3. Participação Ativa e Produção de Sentido
Os Estudos Culturais, surgidos na Inglaterra lá nos anos 1960, chegaram para lembrar que as pessoas não são meros receptores passivos de mensagem. Inspirados por ideias do Antonio Gramsci (hegemonia cultural) e nos estudos de Stuart Hall, no modelo de encoding/decoding: “Olha, cada um vai decodificar o mesmo conteúdo de um jeito diferente, apesar de ter minhas dúvidas do propósito de vida desse caras, o conteúdo de suas pesquisas continuam relevantes. É verdade que cada um traz seu próprio repertório, — sua classe social, seu gênero, sua vivência.” A tradição dos Estudos Culturais deslocou o foco da simples transmissão de mensagens para o papel ativo do receptor. Traduzindo para o contexto socioambiental atual:
- Recepção como apropriação: nem todo vídeo viral ou campanha publicitária é absorvido de forma homogênea. Grupos diferentes ressignificam—recompartilham memes, criticam narrativas e criam contraculturas digitais.
- Metodologias participativas: no ambiente acadêmico, isso significa usar entrevistas, grupos de foco e etnografia digital para entender como comunidades online (fandoms, militantes, coletivos) negociam sentidos e disputam significados.
- Exemplificando: Um comercial que diz “compre este carro para ter status” pode animar muita gente, mas também gerar repulsa em quem vê propaganda de consumo exagerado — cada grupo vai “fazer” um significado diferente.
Dica prática para o empreendedor social: ao planejar uma ação de marketing social, é essencial considerar não apenas a mensagem a ser enviada, mas de que modo diferentes segmentos de público podem interpretá-la — evitando equívocos ou apropriações indesejadas. Se uma marca pretende dialogar com jovens de periferia, publicar um anúncio padrão nos horários nobres da TV pode ser tática furada: talvez outro tipo de conteúdo, mais local, mais artesanal, faça mais sentido. Em vez de chegar num grupo com um questionário pronto, os pesquisadores passam a convidar a comunidade para conversar, para co-construir os temas e até para sugerir quais dados são importantes. Aí a pesquisa fica bem mais rica e menos mecânica.
O ponto-chave é que o receptor não é uma “caixa vazia” pronta para receber. Pelo contrário, ele (ou ela) ativa processos criativos e críticos, reconfigurando a mensagem conforme seu repertório cultural.
4. Ética do Discurso e Consenso Dialógico
Já pensou como Jürgen Habermas? para ele, “validar uma norma” (seja uma regra de condomínio, seja uma política pública) só faz sentido se todo mundo puder participar de um debate transparente e livre. Esse papo dele de Ética do Discurso envolve pensar: “Isso aqui vai valer para mim? Quem está na mesa de discussão? Quem falta? Alguém está sendo silenciado?” Jürgen Habermas propôs uma abordagem que conecta comunicação, democracia e legitimidade: Na ética do discurso, uma norma ou regra social só deve ser considerada válida se todas as pessoas afetadas tiverem a chance de participar livremente de um debate e chegar a um consenso.
- Relação comunicação/política: em assembleias estudantis, conselhos comunitários ou fóruns online, garantir a participação autêntica de vozes diversas é condição para decisões legítimas.
- Pesquisa colaborativa: no meio acadêmico, essa lógica leva à adoção de métodos participativos: em vez de o pesquisador “escrever sobre” um grupo, é preferível pesquisar com o grupo, incluindo-o no processo de formulação de perguntas, coleta de dados e validação de resultados.
- Benefícios práticos: debates mais plurais diminuem riscos de coação ou de silenciamento de minorias, contribuindo para a construção de soluções mais justas e representativas — seja em políticas públicas ou em projetos comunitários baseados em comunicação.
5. Aldeia Global e Ecologia dos Meios
Outra contribuição fundamental para o pensamento contemporâneo vem da Escola Canadense, representada por Marshall McLuhan e Raymond Williams: a ideia de “aldeia global” descreve como a tecnologia eletrônica aproximou pessoas de lugares antes distantes, mas também criou novos desafios — hoje, o mundo inteiro conversa em tempo real, mas ao mesmo tempo se fecha em bolhas (tribalização eletrônica). Informações que se propagam instantaneamente e distorções de foco.
- Instantaneidade e tribalização: comunidades inteiras podem se mobilizar em torno de hashtags (activismo digital), mas também podem se fechar em bolhas de informação que reforçam crenças sem debate ou melhor (DataBASE). No Twitter, posso ver uma notícia sobre um protesto na América Latina assim que ela “estoura”. Em minutos, tem gente de outros continentes comentando. Cada um aumentando ou diminuindo o significado da mensagem de acordo com seu contexto cultural. Esse mesmo recurso que une pessoas pode gerar bolhas de informação: se eu circulo só em grupos que pensam igual, acabo só reforçando minhas crenças, manter um equilíbrio dialógico é importante para pesquisadores tanto quanto para questões filosóficas do indivíduo.
- Ecologia dos meios: vale entender cada mídia (rádio, TV, jornal impresso, redes sociais) como parte de um ecossistema. Ao inserir um novo canal de comunicação (por exemplo, uma plataforma de streaming educacional), não é apenas “mais um meio”: há impactos sobre produção de conteúdo, circulação de informações e dinâmicas pedagógicas.
Quando entra um novo meio — por exemplo, um podcast de nicho ou uma plataforma de vídeo curta — isso muda a forma de consumir e de produzir conteúdo. As instituições precisam mapear esse mapa de “meios” para saber onde agir: se vai ser no TikTok, se vai ser num boletim de newsletter ou num workshop presencial.
6. Ruídos e Barreiras na Comunicação
Claude Shannon e Warren Weaver, lá atrás, já chamavam atenção para os “ruídos”: tudo aquilo que atrapalha a mensagem chegar limpa. Pode ser:
- Ruído semântico: quando o vocabulário (jargões, termos técnicos) é tão pesado que o público não entende.
- Ruído físico: falta de sinal de internet, interferências técnicas.
- Ruído psicológico: estou distraído, preocupado ou preconceituoso, e a mensagem se perde dentro de mim.
- E daí?
- Se você vai produzir conteúdo para mulheres de 50 anos que moram no interior e não têm banda larga rápida, um vídeo de 4 GB vai simplesmente não chegar lá.
- Se vou entrevistar moradores de rua, usar termos acadêmicos pode soar distante, até ofensivo. Melhor falar de forma mais acessível, com bom vocabulário, mas sem pedantismos.
Como cuidar disso?
- Simplificar a linguagem, contextualizar termos técnicos.
- Testar os canais: será que esse grupo tem acesso ao app X?
- Fomentar a literacia midiática: ensinar a galera a pesquisar, a checar fontes e a não tomar qualquer link viral como verdade absoluta.
7. Cultura Participativa e Convergência Midiática
Henry Jenkins trouxe ao debate a noção de cultura participativa, em que o limite entre produtor e consumidor se torna fluido. “O publicitário acha que só manda o anúncio e acabou. Mas a galera responde, faz remix, cria memes, reivindica suas narrativas.” Fãs produzem fanfics e compartilham conteúdos que reconfiguram narrativas estabelecidas.
- Convergência de plataformas:
- Um meme que nasce no Instagram pode invadir o Twitter, virar tema de canal no YouTube e, depois, inspirar notícia em site de grande audiência — tudo em questão de horas.
- Para quem trabalha com projetos:
- Se você planeja uma ação de educação ambiental, pode envolver escolas, convidar crianças a produzirem vídeos curtos, compartilhar nas redes e até gerar debates ao vivo — tudo isso faz parte da convergência.
- No universo acadêmico:
- Quando um pesquisador inclui os próprios participantes numa roda de conversa para entender como enxergam problemas, ele está fazendo co-criação (etnografia digital, entrevistas abertas, grupos de foco).
Incorporar técnicas de co-criação torna a pesquisa mais rica: pesquisadores e sujeitos pesquisados atuam juntos na geração de hipóteses, na interpretação dos dados e na disseminação de resultados. Isso torna a pesquisa mais viva e mais alinhada com o que o público realmente quer dizer.
8. Gatekeepers e Economia da Atenção
Historicamente, o gatekeeper era o profissional de jornalismo que decidia o que entraria no jornal, era aquele editor faxineiro de pautas de jornal: ele ou ela decidia o que virava manchete. Hoje, tambem, só que ele estuda programação e escreve um algorítimo, e na prática quem decide o que chega a você pode ser um algoritmo de redes sociais, moderadores de plataformas ou reguladores de conteúdo. Esse fenômeno se liga diretamente à economia da atenção, em que a moeda de troca é o tempo do usuário.
- Vieses algorítmicos:
- Se eu passo o tempo todo vendo vídeos de gatos, o YouTube vai me encher a tela de mais vídeos de gatos. Quer queira, quer não. Marcas e influenciadores investem em estratégias para “driblar” esse filtro — vídeos patrocinados, carrossel de fotos, lives, usar hashtags específicas… É uma dança constante para tentar ser visto.
Se você é professor, pesquisador ou comunicador de ONG, entender como esses algoritmos funcionam é essencial para que suas mensagens cheguem às pessoas certas. Do contrário, você corre o risco de produzir um conteúdo incrível que nunca vai aparecer no feed de quem realmente precisa vê-lo.
9. Comunicação e Interseccionalidade
Hoje, não adianta falar “tudo para todo mundo” sem reconhecer que cada pessoa tem um contexto diferente de vida. Interseccionalidade é entender como gênero, raça, classe e outras marcas sociais atravessam a forma como cada um consome e produz conteúdo.
Você já reparou como alguns grupos mal aparecem nas campanhas ou são retratados de forma estereotipada? Ao planejar um projeto de comunicação, vale pensar: Qual público pode se beneficiar das iniciativas que vou defender? “O que estou promovendo incluí negros, indígenas, neurodivergentes e qualquer tipo de PCDs na conversa? Mesmo com um público em mente e uma comunicação direcionada, é preciso pensar como a mensagem pode ser recebida por outros grupos também.
- Pesquisa inclusiva:
- Se vou estudar hábitos de consumo de mídia numa comunidade rural, preciso lembrar que essas pessoas talvez não tenham celular caro, internet estável ou alfabetização digital. Então, investir em rádio comunitária ou em encontros presenciais pode fazer muito mais sentido do que apostar em fóruns online.
- Responsabilidade social:
- Projetos de inclusão digital que não consideram as diferenças culturais e socioeconômicas podem acabar replicando exclusões. Coautoria é a palavra-chave: levar as vozes de quem vive a realidade para construírem juntos a agenda de comunicação.
10. Do Conhecimento à Prática Transformadora
No fim das contas, o que todas essas teorias nos dizem, juntas, é que comunicação não é só técnica nem só informática: é um fenômeno social, político e cultural que reflete — e reafirma — as relações de poder na sociedade. Se você quer:
- Ler criticamente os meios — comece reparando como cada app, cada canal ou cada formato de vídeo influencia seus pensamentos.
- Valorizar a participação ativa — convide as pessoas a dialogarem, não simplesmente entregues conteúdo e esperem que consumam passivamente.
- Promover a ética do discurso — abra espaço para que todos os afetados participem da conversa, especialmente quem normalmente é silenciado.
- Entender a interseccionalidade — perceba que raça, gênero, classe e outros fatores atravessam tudo, desde a produção até a recepção de uma mensagem.
- Estimular literacia midiática — ajude o público a filtrar informações, a desconfiar de “fake news” e a notar quem está por trás de cada grande campanha ou vídeo viral.
Ao longo desta resenha, vimos que McLuhan, Frankfurt, Habermas, Estudos Culturais e tantos outros oferecem ferramentas para que possamos atuar de forma mais consciente. Aqui no Inovamente Hub, me comprometi a compartilhar essas ideias para inspirar você a colocá-las em prática: seja criando campanhas, produzindo vídeos, tocando pesquisas na faculdade ou debatendo com os amigos.
Sobre o autor
Sou apaixonado por criar produtos educacionais, organizar ideias e prestar consultoria, mas, na prática, passo mais tempo dando vida às minhas próprias iniciativas do que aos projetos de outras pessoas. É uma jornada de herói solitário: você sabe como é, faz de tudo um pouco, mil e uma colaborações para desenvolver algo incrível com recursos limitados, enfrenta desafios diários de organização e execução e aprende muito revisitando teorias, testando ideias e ajustando cada passo no caminho.
No artigo, falei sobre como a mídia molda nossa percepção da realidade — e é exatamente isso que faço quando construo meus projetos: cada canal, cada formato de comunicação que escolho influencia o impacto que consigo gerar. Atualmente utilizo o whatsapp e Direct no Linkdin, o conteúdo de valor tem que estar alí. Não preciso atingir meio mundo de gente para relazar meus sonhos, 2 ou 3 contatos feitos com qualidade basta para que juntos possamos impactar algumas dezenas de milhares no futuro próximo. Cada macaco no seu galho né? Talvez você também esteja nessa correria: atende clientes, cuida de projetos e mal consegue reservar tempo para criar conteúdo. Eu também. Meu sonho futuro é ensinar, mas, hoje, meu foco é gerar impacto social. Sou daquele tipo que aprende de verdade ao conversar e trocar experiências — falo muito, mas escuto muito mais. Ainda estou atrás da minha verdadeira voz como escritor, mas sinto que, a cada texto, vou ficando mais em sintonia comigo mesmo. Para mim, filosofia é terapia para o espírito.
Por enquanto, o que posso oferecer é o que sobra de tempo: resenhas breves, alguns insights (raríssimos, mas acontecem) e reflexões sobre como transformar ideias em impacto. Uma parceria para replicar métodos viáveis, enfim. Mais vale um parceiro de negócios com um propósito claro do que dinheiro no bolso sem destino. Se você, assim como eu, vive esse ciclo de empreender sozinho e quer fazer a diferença, seja bem-vindo(a). Vamos trocar experiências e seguir nessa jornada juntos.